Sola Fide - Somente pela Fé
Celebração dos 507 anos da Reforma Protestante
29 out 2024, 00h00“visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá pela fé.” (Romanos 1.17).
O Sola Fide (Somente a Fé) é um dos cinco “solas”, assim denominados ao longo da história da Igreja, posteriormente à Reforma Protestante do século XVI. É uma expressão em Latim para asseverar que a justificação dos pecados, a salvação eterna, só é possível por meio do sacrifício de Cristo na cruz, mediante a fé.
É preciso que se compreenda o contexto em que se deu a Reforma. O cristianismo, no período medieval, é resultado de um longo processo que, aparentemente, se inicia na época da patrística, de transformações, alterações e acréscimos à vida evangélica da Igreja, como, por exemplo, peregrinações a lugares santos, penitências, indulgências, purgatório, realização das chamadas “boas obras”, como instrumentos salvíficos. No próprio medievo, as vicissitudes com as quais as pessoas tinham que se ocupar, como, por exemplo, medo da morte, pragas, fome e guerras, de certa forma, produziram anseios pela morada nos céus (FLUEK, 2016, p. 25-26).
Martinho Lutero, um dos principais reformadores do século XVI, monge agostiniano, em face de seus estudos bíblicos e nas preparações de suas aulas teológicas, inquietou-se a respeito da salvação com fundamento na meritocracia, que a Igreja propagava ao povo e, consequentemente, dos questionamentos acerca da mesma. De acordo com o teólogo e historiador Gonzales, foi examinando exatamente o texto de Romanos 1.17, que Lutero encontrou respostas para as suas indagações. Uma delas era:
é possível o homem ser justificado diante de Deus pela prática de boas obras? A resposta, à luz do texto bíblico de Romanos, é que não é possível! A justificação acontece somente pela fé em Cristo. A justiça não é obra humana, mas divina (GONZALEZ, 1995, p. 49-50).
De maneira geral, o Sola Fide se contrapõe a qualquer tentativa de pretender ser salvo recorrendo às obras, aos sacramentos, à Igreja, ao sacerdócio humano e/ou a qualquer mérito, que não seja somente pela competência de Cristo. Como bem ressaltou o reformador Calvino:
“será justificado pela fé aquele que, excluído da justiça das obras, compreende a justiça de Cristo por meio da fé, e, vestido com ela, apresenta-se ante o olhar do Pai não como pecador, mas como justo”. (CALVINO, 2009, p. 193).
De fato, apenas pela fé no sacrifício salvífico de Cristo, o homem é justificado dos pecados. Uma vez justificado, viverá pela fé. Foi exatamente isso que os reformadores e a Igreja reformada ensinaram no percurso da história cristã. É esplendoroso saber que Cristo veio e pagou o preço com a sua própria vida para ofertar a salvação eterna, sem merecimentos humanos, àqueles que, pela fé, reconhecem a sua obra redentora.
Bibliografia
CALVINO, João. A instituição da religião cristã. Tomo II, Livros III e IV. São Paulo: Editora UNESP, 2009.
FLUEK, Marlon Ronald. História e Teologia da Reforma. Curitiba: Cia. de Escritores, 2016.
GONZALES, Justo L. A era dos reformadores. E até aos confins da terra: uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995.
Pr. Dr. Francisco Emanoel Lima Santos